quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Meu pai me deu quase nada...


É difícil nascer em uma família grande.
Muitos irmãos para dividir afeto e os bens materiais.
Lembro que queria sempre mais mistura, refrigerante.
Meu pai me dava quase nada. Ele dizia que tinha que sobrar para todo mundo.

Fui crescendo e queria mais e mais coisas.
Queria um videogame, queria bebidas, mas ele não me dava.
Ele haviam outras coisas mais importantes para se investir o dinheiro.

Depois queria um carro, roupas de grife, dinheiro...
Ele não me dava. Dizia que eu precisava arrumar um trabalho e comprar minhas coisas.

E o pior de tudo, ele não parecia ligar para o que eu fazia.
Arrumava briga na escola, ia para a diretoria, ele só brigava um pouco e me deixava. quieto.
Chegava tarde em casa, às vezes um pouco alto e ele fazia de conta que não tinha visto.
Mas, toda vez que ia sair de casa, me dizia pra "ter juízo". Ficava esperando até eu chegar, mesmo que isso fosse às 7 da manhã!

Quis ir para o seminário, me deixou ir sem muitas perguntas.
Quis sair, me aceitou de volta como se fosse a melhor coisa que tinha acontecido.
Fui pra faculdade, nem quis saber qual o curso que eu ia fazer. Falou que estava feliz com aquilo que eu quisesse.
Resolvi largar um emprego estável de 3 anos, e ir embora de perto dele, me incentivou bastante.
Até pensei que queria que eu fosse embora de sua casa.

Hoje, ele resolveu ir embora.
Com sua teimosia e jeito de fazer as coisa à sua própria maneira.
Não quis se despedir. Não esperou todo mundo estar perto.
Não conseguiu contar a sua biografia que ele tanto queria.
Mas, começo a perceber que ele não se foi realmente.

Seu modo de ensinar as coisas, de fazer com que se dê valor a vida e todas as coisas.
A honestidade cega, que perdoa a todos, esquece os erros e ama cada um independente de seu erros.
O carinho que não cobra, que está sempre disponível e é sempre compreensível.
Velho, você vai fazer muita falta!
Quem eu vou chamar de Zé Lopes, véinho, PAI?
Espero que eu possa ser metade do homem que o senhor foi.
Que eu possa ensinar para os meus filhos, metade das lições que o senhor nos ensinou.
Que eu possa ser metade do amigo atencioso e amoroso que o senhor era com todas as pessoas.
Porque assim, serei ao mínimo um pouco como o senhor, pois sei que jamais conseguirei ser melhor.
Meu pai me deu quase nada. Mas me ensinou tudo!

O senhor foi e sempre será meu herói e maior exemplo!
Que bom que conseguimos viver um lindo dia dos pais com toda a família, como era antes dessas coisas ruins acontecer!

Vai com Deus e olha para a gente, pois precisamos muito!

José A. Lopes Pereira *04/02/1939 +14/08/2012




(Texto escrito em 14/08/2012)